Luz da noite

Na alvura solitária me ponho a desenhar
As saudades da clareira prateada do luar
Minhas lonjuras derramadas sob a luz a prantear
Nos meus choros de menino ainda a derramar
Na clareira enluarada na solidão a me entreter
As ligeiras sombras do escuro no caminho
Minhas luzes de candeeira numa voz a se esconder
Um brilho solto numa queda d’água, o rio vizinho
Nas fronteiriças intermináveis do meu mundo
As clareiras prateadas que beijam o profundo
Muitos olhares se perderam nos espelhos d’água
Carregados sob a frieza de uma triste mágoa
Meu caminho é como um raio enluarado na manhã
Desfaz o traçado de um rumo desandado no papel
A solidão da madrugada que descarreteia este meu véu
O risco largo que me encanta nesta poesia escrivã
Meu mundo como uma luz dourada acendeu-se
Com o brilhar da aurora minha solidão apagou-se
Mas a lua traz de volta a vontade inacabável
De regar-me numa luz de aurora inalcançável
Meu poema num prumo desarrumo desalento
A marca destas letras num papel de luz celeste
Nas saudades da clareira enluarada meu intento
No momento em que este dom a mim se investe
Abóboda solar que me rodeia a manhã tão cinza
Minha poesia se descreve num momento de clarão
Em que desenho o papel desta saudade em solidão
De uma voz que eu canto no meu mundo tão ranzinza
Mas que alegrias me descrevem a presteza da escrita
Quem mais solfeja a milagrura desta alma tão aflita
Em saudades se banha o meu desejo indelicado
Nas ranhuras de um papel agora todo desenhado
Cores desatando pelo azul do céu quando escurece
As mareadas árvores deste meu bosque de poemas
As copas tão ardentes que tecem no papel a minha prece
Como quando canto a quietude do silêncio de meus temas
Quando não tenho sobre o que mais versar na noite escura
Me aparece a solidão como uma bruma numa cor de alvura
O papel reluz como a clara luz argêntea que não ilumia
O bordão bordado que é um barco numa luz que me tecia
A madrugada é uma poesia que se recita agora
Enquanto aguardo na vívida saudade da aurora
Como a luz dourada que me queima as faces rosadas
As saudades de minhas rosas para sempre despetaladas
A eternidade da saudade é um alento para o coração
Pois a memória é símbolo do momento esculpido
Nas linhas desta pedra a perfeita sinfonia de memoração
Da atenção a que me preza o olhar delicado e despido
A nudez dos meus olhos remontam ao eterno esquecimento
Ainda que eu me lembre com a exata medida de aferição
A luz que me banhava num penhasco solitário sem sustento
Como um pássaro calado a voar na despencada escuridão
A memória dos meus olhos é a mesma da minha alma
Que me traga as fulguras de uma vida na solitária palma
Como de mãos me inunda a platina delicada de um astro diligente
Como verte a vontade de ver-te num compasso displicente
Meu poema é uma rima eterna no aguardo da saudade
Que vai e não me volta quando penso na minha inteligência
Pois ela é vã e frágil, não me serve quando penso a realidade
Que me esqueço que o clarão da lua é a minha resiliência