
Eu continuo escrevendo poesia. Engraçado, porque só escrevo quando algo zoado acontece comigo. Ou então, quando eu vejo alguma coisa que mexe por dentro, sabe?
É, eu rio sozinho disso às vezes. Ha. Ha. Ha.
Eu também achava que era diferente quando eu escrevia, porque geralmente escrevia a respeito de coisas que eu julgava serem apenas internas. Acontece que não é bem assim. Não mais.
Vi pessoas ontem. Vi suas imagens hoje. Não sei. Enxerguei-as ontem, assim como as enxergo hoje. Faz muito tempo que prefiro deixá-las de lado, por não poderem estar no mesmo caminho que eu. Que erro meu! Desejar que façam o que eu creio ser certo. Elas ririam de mim.
Eu não sei o que dizer. Sinceramente, vejo olhares tão vagos que nem sempre sei se alguém ainda habita lá dentro. Vejo olhares que me atravessam, outros que nem sequer chegam a me atingir. Olhares que não fazem mais do que observar algo tão vazio que não se espera mais nada. Nada mesmo.
Havia um olhar que procurava por outros, e este, apesar de tudo, não encontrava o que procurava. Um olhar que ia perdendo seu brilho a cada segundo que se prendia àquele lugar tão vazio. Lugar de corações vazios, sabe? Meu olhar não sustenta o olhar de corações vazios, pois, para tal, é preciso que os corações se permitam preencher. Como se sustenta o peso de nada? Também não sei.
Resolvi que deveria ir. Levantei-me. Olhei em volta. A nossa juventude é bela, sabe? Apesar de vazios, os olhares ainda guardam dentro de si, um pouco de vida, que se esvai. Se esvai na bebida e na tristeza. Mas então eles protestam! Dizem que “triste é você! Nunca faz nada! Não gosta de nada! Você está perdendo seu tempo!” Como posso eu, ser triste? Meu olhar no espelho não é vazio. Não como já foi um dia. Sem razão de ser. Mas os olhares dos meus amigos tão queridos, todos tão vazios. Os olhares sem razão, presos por um coração sem amor. Desperdiçando sua própria beleza em algo que não faz parte da minha natureza. Talvez faça parte da natureza deles. Só quem pode dizer são eles próprios.
E eu, no entanto, desejei que não deixassem sua beleza ir embora tão facilmente. Pois apesar de seus erros, são ainda belos e jovens, alguns deles ainda tem bondade. Alguns ainda desejam o amor, e não a ausência de alegria, que desejada por muitos é buscada sem razão em locais tão vazios quanto o coração de quem os procura. Posso ainda dizer, que talvez minhas palavras aqui sejam mal interpretadas por aqueles que ainda buscam por uma alegria que jamais encontrarão em um lugar tão vazio. A alegria do ser não está na companhia de uma pessoa que é engraçada ou inteligente, também não está na música alta que a gente ouve, e muito menos nos erros que se cometem. A alegria de ser está em ser. A alegria é, assim como o ser, sua própria existência. Filosófico.
Agora, cabe a mim explicar essa afirmação. A alegria que estou descobrindo nunca esteve onde eu procurei, porque eu a via todos os dias de manhã, quando acordava desanimado e com um sono terrível, antes de ir para aquela aula maravilhosa de Política e Gestão da Educação, ouvindo coisas que me deixam profundamente entediado, porém, a alegria estava o tempo todo ali, escondida atrás do brilho fosco dos meus olhos no espelho enquanto eu escovava os dentes do jeito mais preguiçoso que já vi na vida. A alegria está em ser eu, e apenas tal.
Então, meus amados amigos, a quem desejo alegria. Sejam, apenas, não desperdicem o tempo de vocês. Não encontrarão felicidade fora de vocês mesmos. Não a encontraram enquanto estiveram cercados de pessoas com falsas alegrias, ouvindo música alta, e muitas vezes ruim, vendo outros perderem a razão de si, por julgar que aquilo é felicidade.
Ser feliz é estar sóbrio dentro de si mesmo. É saber que você pode ser, o que quiser, e especialmente, essencialmente, feliz.
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