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Estrelas



Era um painel. Áspero e fosco. De um preto novo, quase tão claro quanto a borda do asfalto de final de tarde. O céu era repleto de tons amarelados e avermelhados, como um sorriso tímido. O Sol fazia seu trajeto a recolher-se sob as nuvens que despontavam o frio chuvoso daquela tarde de sábado. O ponteiro vermelho apontava os números redondos como só as máquinas podem fazer. A roda do volante era gasta e estava ligeiramente brilhante. Meus pés afundavam nos pedais. O câmbio era ligeiramente travado. Era a primeira vez que eu tocava no carro naquela semana conturbada. Ainda me assombrava pela visão daquelas claras amêndoas. O verde-escuro aproximava-se na

medida em que as sombras ficavam cada vez menos claras. A noite começara e o frio se

adensava mais uma vez. As purezas cristalinas e gélidas escorriam pelo vidro. Decido encostar próximo da entrada do prédio ao final da rua, depois de chegar à entrada do parque e andar vários metros até encontrar essa vaga. Desço e não levo nada além das chaves.

A noite era como um véu balsâmico no qual eu me enrolara todas as noites. Hoje, porém, ela era diferente. A Lua em sua nua beleza prateada não estava lá. Havia sucumbido às voltas intermináveis da história e agora encontrava-se recolhida nos recônditos do Universo. As árvores de formas tristes estavam todas iguais, suas flores eram agora reflexos na luz noturna. As poucas pessoas que passavam por ali recolhiam-

se em seus casacos, pois a chuva era gelada. Resolvi deixar minha face experimentar o gélido da água. Poucas vezes em minha vida senti tanto em tão pouco. Encostei-me em um pequenino banco que apontava para um grande lago cercado de um jardim de sombras e formas delicadas, dançantes sob o brilho bruxuleante das lâmpadas. Recosto o corpo e brinco com o metal gelado da chave por meus dedos. Percebo a umidade colada nos meus dias. A solidão daquele lugar era um alívio, e o frio mórbido era uma grande fonte de tranquilidade.

Meus dedos já estavam azuis quando resolvi me colocar em outros locais, em frente àquele lindo lago. Seus azuis refletidos pelos prédios lembravam-me das cores do apartamento. Das capas. O brilho oculto da Lua era como a lembrança de frias tristezas que me cercavam pela última vez. O alvo das estrelas me lembrava das letras que comecei a ler mas que o vento levou. Levou toda a resolução de um dos momentos  mais conturbados desses meus poucos dias. Era um oceano partido ao meio, com a escuridão banhando suas águas. As flores estavam azuladas e esbranquiçadas pelo sopro delicado do inverno. As minhas horas de fevereiro eram assim, agora. Coloquei os olhos sobre o chão e nele desenhavam-se as linhas dos sapatos, outrora brilhantes e novos, agora cercados pela umidade afiada.

O suspiro me foi o que sobrou. A alvura de milhares de horas repetindo-se em minhas memórias como traços infinitos de poemas que jamais soube cantar. Aliás, detesto tudo em que se inscreve poesia. Tão diferente do que é a vida, são apenas palavras repetidas. Jamais cantei o escuro de meus próprios olhos, mas escrevia sobre os detalhes das bordas das ruas naquela semana. Era o que eu enviaria para resolver aquele trabalho. Tudo que me vinha à memória eram as grandes e amarronzadas amêndoas. Doces e duras. A fineza de um toque que jamais conhecerei. Estava tudo acabado agora, eu tinha certeza. A carta fora levada… Ela não voltaria a me assombrar, eu sei. Jamais estive tão errado quanto nessa noite.

Nada é tão puro quanto a solidão que me cercava esta noite. As flores escondiam-se agora em todas as sombras, e a frágil luz do céu agora esvaia-se por entre as linhas quadriculadas dos concretos acinzentados e mortos. Faço meu caminho de volta ao carro.

A porta era morta como a augura daquele momento. O cristalizado vítreo que encobria o painel fosco e áspero era apenas uma ilusão agora, pois o vento já me atravessava.

Sentei-me e esperei… A noite seria eterna.

– Rapaz! – uma voz de longe gritava rouca e trêmula – Acho bom você sair logo! Preciso fechar o parque e ir embora.

Fiz um pequeno aceno e dirigi até a saída. O volante girava travado, como se o frio houvesse congelado as maquinarias que existiam debaixo daquele painel. Os espelhos revelavam as luzes que se desvaneciam ao me afastar do grande portal. A avenida ficava cada vez mais movimentada e eu agora só ouvia o ronco dos motores. A cidade reluzia ignorando o futuro trágico de milhares de seres naquela noite. Talvez fosse melhor assim, sem saber. Talvez fosse melhor não conhecer aquela resposta.

O vitral embaçava-se com uma facilidade assombrosa, e eu perdia muito tempo tentando identificar as entradas nas quais deveria colocar o veículo. Detestava dirigir e hoje não estava sendo diferente. Ainda mais agora, quando me encontrava próximo ao viaduto que levava à praça e ao Café. Estava cada vez mais perto do edifício de vinte e dois andares no qual eu alugara um pequeno espaço para tentar construir uma vida de vazios em mim mesmo. Achei que seria suficiente. O lago agora era uma vaga lembrança e o reflexo das janelas e sacadas era o mais próximo do cristalino aquático que eu havia testemunhado há poucas horas.

A grande caixa metálica ainda demoraria longos minutos para chegar, por isso retornei à caixa de correio e reencontrei aquele bilhete. Em sua última dobra havia um espaço em branco. Sorri agoniado. Mais uma grande sacanagem. Eu sabia que o jogo não terminaria com a brisa do vento e a violência de uma noite de arranhões e dentes. Eu sabia que teria que tocar os olhos amendoados por uma última noite. Nesta noite, no entanto, o fosco do painel já era como eu. Meus músculos estavam doloridos pelo frio e meus movimentos eram travados pela apatia do momento.

Adentrei o cubo e pressionei lentamente até a pequena lâmpada dentro do 5 acender. Ascendi tão lento quanto o discurso dos políticos em quem me recusara a votar. O ranger dos cabos de aço eram lentos e demorados, lembravam-me das perseguições e

do som do chão que eu atingira centenas de vezes nessa curta existência. Meus dedos ardiam e minha postura estava cansada. Já não sustentava a minha altura. A porta abriu-se no terceiro andar e a voz do final do corredor perguntou:

– Tá descendo?

– Tá subindo. – respondi como uma assombração desgastada, cujas correntes já não assustam.

– Merda.

Assim que as portas fecharam o ranger recomeçou e junto com ele meus cânticos memoriais. Aquela viagem seria uma das mais longas que eu faria neste cubículo metálico. Quando finalmente coloco-me para fora e tateio o caminho para minha porta ouço o ranger dos cabos novamente. A porta é quem lamenta agora, com as dobradiças

desgastadas e a madeira pesada se arrastando. A lâmpada da sala havia sido quebrada na noite anterior. O sofá estava cerca de 20 centímetros fora do lugar e a sacada continuava aberta, de onde o vento soprava como um cantor fúnebre e solitário. Era noite de fim. Era noite de fim.

Ligo a água para aquecer pela última vez nesse dia. Aguardo o vapor preencher o corredor e anunciar-me que posso desfrutar do calor. A umidade agora me era bem-vinda e desejada. Assim como aqueles grandes olhos de amêndoas. O banho foi rápido e o vapor ausentou-se na mesma velocidade em que chegou. Colocava constantemente os olhos para fora do quarto, procurando pela desaparecida alvura laminada da prata lunar. A busca era vã. Levantei-me e resolvi colocar o peso para fora. Havia decidido como as coisas terminariam. Já não sabia o que fazer e meus pensamentos eram tão perdidos quanto os turistas sem mapas pelos labirintos de ruínas ancestrais do leste europeu.

Projeto-me em direção ao grande corredor entre os apartamentos. O grande 504 parecia agora apagado e gasto, como se o tempo o tivesse castigado severamente desde aquela quinta-feira. A madeira era agora frágil e fosca, sem a imponência que havia me feito nos dois dias anteriores. O corredor agora era longo e estreito, como o caminho que eu faria nos próximos anos. Cada passo era agora uma longa jornada de memórias e projeções, como uma lembrança de longas eras das quais a humanidade jamais haverá de se recordar. Eu mesmo já não recordaria depois desta noite.

Toquei a casca arbórea que compunha a porta e que agora descascava-se de modo a definhar o material de todo aquele prédio. O número de metal agora reluzia enferrujado. A maçaneta via-se quebrada e meus dedos ardiam cada vez mais devido ao frio. O choro melancólico da entrada a se abrir me foi torturante e eu demorei mais tempo do que o necessário para terminar a tarefa. Coloquei as mãos dentro dos bolsos enquanto esperava a porta terminar de dançar até encontrar o outro lado da parede. Ouvia apenas o arranhado agora.

A pequena caixa de som agora chiava como se o disco houvesse se quebrado dentro dela. As estantes estavam empoeiradas e as capas agora eram todas da mesma cor. Cor de velhice. Nem mesmo o som delicado do felino que ali habitava me distraiu da fragilidade com a qual o apartamento estava enamorado. Parecia que o tempo ali era outro, passado por centenas de séculos, dos quais jamais poderei contar as datas. A pequena mesa de centro era desgastada e jogada aos vários lados daquele pequeno espaço. A solidão daquele lugar me era estranha. Era como se toda a vida  desaparecesse dali e restasse apenas a agonia do tempo passado.

Adentrei aos cômodos que jamais havia vislumbrado. A cozinha era alongada, diferentemente da minha tinha utensílios realmente práticos, como um grande fogão amarelo e uma pequena geladeira vermelha. Sobre a pia encontravam-se taças e copos cristalizados e empoeirados. Havia uma pequena janela e um bule azulado pendurado ao seu lado. Ainda cheirava a doce. Ao atravessar a sala de estar e perder meus olhos para aquela infinitude de páginas me dei conta da máquina de escrever. Ela continuava lá, impassível, como se o ambiente não fizesse parte dela. Como se ela fosse avulsa a este mundo. Ao chegar próximo ao corredor interior atentei-me que havia duas portas.

À esquerda uma pintura branca, quase infantil. À direita um caminho escuro que terminava em uma longa e pesada porta marrom.

O caminho mais longo até a maciça dobradiça foi pavoroso, como se milhões de olhos me vigiassem. A porta estava trancada. Nem com toda a força de meu corpo pude fazê-la se mover. Extremamente frustrante esforçar-me e vê-la constante em seu lugar, como se escondesse o segredo de mil homens. Resolvi então tomar o caminho oposto, em direção à porta branca. Ela pareceu-me ainda pior do que a primeira e apesar de  eu

formato frágil e delicado foi um esforço descomunal para abri-la. Parecia que as dobradiças haviam sido consumidas por ferrugem já há muitos milhares de anos, e que abri-la parecia violar algum tipo de templo secreto.

Visualizei uma coleção de bonecas, de formas primitivas. Uma pesada escrivaninha de mármore maciço, que não tenho ideia de como foi levada para lá, pois era grande demais até mesmo para o corredor das escadas e quem dirá para a porta. Um grande espelho emoldurado em amarelo-fosco, cujas bordas estavam escuras e que era atravessado por uma linha, quase imperceptível, que corrompia a integridade do reflexo de qualquer coisa que se colocasse a sua frente. Encontrei mais livros colocados em uma estante presa à parede. Esses, no entanto, não pareciam perdidos no tempo, mas estavam imbuídos de um brilho desconcertante. Logo abaixo da estante havia uma pesada cama de metal, com um grande lençol sedoso azul-celeste, com travesseiros bordados em verde-claro. As cores pareciam muito destoantes.

Fechei a branca porta e virei-me delicadamente, apenas para me deparar com longos olhos amendoados encarando o fundo do meu espírito. Como um grande susto as lágrimas desceram lentamente. Entretanto, a imagem pareceu esfumaçada e vaga. A mudez não lhe era natural. O mundo rodou ao meu redor e eu vi apenas os borrões de  suas formas delicadas. A noite parecia apossar-se de mim, pois tudo que eu via agora era o escuro e minha consciência foi-se.

Despertei no que pareceram horas depois. Um grande cômodo cercado de pedras coloridas, pequenas estátuas de cristal, uma longa camada de azul sob meus rosto. Pareceu-me o mar, porém depois a textura do carpete foi aparecendo em meus olhos.

O vento gélido me tocava e eu me levantei devagar. Senti que fora arrastado por centenas de quilômetros. Vários traços cortavam a parede a minha frente. Aproximei-me e toquei as linhas da parede. Senti o vento nas pontas de meus dedos. Ouvi o som de um felino no horizonte. Roger. O choro do animal me foi claro. Eu estava preso do lado de dentro da maldita porta maciça. Nem fodendo que eu empurraria o que me pareciam toneladas de concreto e madeira.

Sentei-me no meio do cômodo e revirei os olhos, buscando qualquer janela. Deparei-me apenas com a tinta velha naquele espaço. Havia sido preso em um lugar impossível de escapar. Aqueles olhos amendoados retornavam. Coloquei-me em frente aos traços na parede e procurei maneira lógica de escapar. Procurei objetos que pudessem servir como alavanca. Coisas que pudessem derrubar a porta. Aproximei-me das estantes repletas de estátuas cristalizadas. Todas elas pareciam perfeitamente reais, com formas com as quais jamais pretendo me encontrar novamente. O olhar delas era pavorosamente desesperador.

Decidi, então, chutar aqueles traços na parede como um insano. Passei horas incansáveis tentando derrubar a parede aos socos e chutes. No final, minhas mãos ardiam e escorriam sangue. Não havia escapatória. Eu seria consumido pelo tempo dentro daquele cômodo. Ou pior, nada do tempo me alcançaria e eu passaria a eternidade preso naquele local. Devia haver um jeito. Porra. As estátuas fitavam-me fantasmagóricas. O miado de Roger era cada vez mais abafado pelo seu choro. O maldito parecia querer me tirar dali de dentro. O sangue continuava a escorrer pelos nós dos dedos e eu não sabia o que fazer.

Lembrei-me da máquina de escrever. Gritei como um desesperado na esperança de que o gato pudesse compreender o que eu dizia:

– A máquina, Roger! Deve haver um jeito de sair daqui e a máquina é a chave!

Inutilmente eu gritava. Os miados desapareceram rapidamente. Fiquei por horas e horas desperto observando o vago das paredes. Coloquei-me de costas para a estante cristalizada e visualizava apenas a parede vazia. O sangue estava agora grosso e seco. Minhas mãos não se moviam da forma como deviam e meus músculos estavam definhando rapidamente. Pareceram-me meses. Anos. As lágrimas estavam agora  secas.

O silêncio havia tomado conta do lugar e eu mal lembrava de como falar. Então assim é a eternidade? Aprendi a conviver com aquela parede vazia. Ela é agora minha única companhia e eu já havia lido centenas de linhas apagadas dentro dela. Mensagens tão solitárias estavam incrustadas nela. Não havia, porém, lápis, caneta ou qualquer ferramenta que pudesse ter escrito tais linhas. Pareciam cravejadas pelas próprias unhas. A alvura da tinta daquela parede era nova. Eu agora tinha apenas vagas memórias do que era a cidade. O Café. A chuva e o Sol. Não havia sequer lâmpada naquele cômodo, mas ainda assim não era de todo escuro.

Eu investiguei todos os lados daquela parede. Meus dedos correram pelos vãos e pelos espaços com precisão cirúrgica. Em todas as paredes e pela maldita estante. Havia um espaço nela ainda, como se uma última forma de cristal fosse ocupá-la. Minha razão estaria lá, penso eu. Não agora, mas em pouco tempo. Estou a ponto de desistir e esperar a insanidade levar o que me restaria de alegrias e memórias, agora apenas passagens embaçadas de eras distantes.

Uma carta havia passado pelo vão. Um miado. Roger havia retornado. Dentro do papel havia uma letra. Um grande “A”. O gato havia me entendido. Imagino que agora há  uma escapatória. Porém, eu devo esperar por quanto tempo até que ele volte com o restante da mensagem? Qual será a mensagem? Não vi perspectivas senão o tempo passar. Eu deveria tentar. É a única forma.

– Roger! – berrei – Traz o resto dessas folhas! Pelo amor! Seja rápido!!

Aquele maldito gato era minha única chance de não perder a lembrança do que era a cidade, o tempo, a chuva, o frio. Estava agora com saudades do frio. Aqui não há sensação. É como se eu não fosse e nunca tivesse vindo a ser. Minhas memórias eram agora a coisa mais preciosa e elas jamais desapareceriam. Eu não poderia permitir que elas se fossem. Eu tenho que voltar. O tempo passou. Anos, décadas, séculos. Milênios. O miado voltou à borda da parede e eu enchi o peito de esperança. Porém, nada foi jogado para dentro da sala. Depois de longos dias de silêncio, o choro animalesco, seguido de um grande estrondo na parede. O vermelho brilhante voou para dentro do cômodo. Manchou o papel entre meus dedos. Desvaneci lentamente, até bater com  orça o rosto contra o chão.

O brilho ardeu meus olhos e eu despertei. Estava novamente no corredor gélido, com a porta branca aberta e meu corpo arrastado entre o quarto e a porta da sala de estar. Estiquei os dedos e empurrei o peso para cima até erguer a postura. Havia um fio de luz embaçando meus olhos e eu rapidamente pude despertar a razão dentro de meus pensamentos. O apartamento ainda estava morto por dentro, com exceção de uma pequena mancha vermelha ao lado da maciça porta. A máquina de escrever estava agora partida e parecia desaparecer como pó.

– Eu sinto muito… – ressoou debilmente pelo apartamento, quase como um lamurio – Muito…

O frio soprava junto daquela voz, como se o vento a compusesse entre as tábuas do chão desgastado do apartamento. Olhei em direção à sacada e pude ver as cortinas balançarem, cortinas curtas e finas de azul-claro. Rapidamente me dispus ao tatear do movimento de tentar sair do corredor. Desabei sobre o sonzinho, que tocou uma última vez:

– “Maybe I have said, something that was wrong…”

– Can I be who was I then? Felt so cristal, in the end…

A voz débil continuava a cantar, agora mais alta, porém apagada pelo próprio tempo. Olhei para fora e vi um fio de Lua brilhosa. Compunha-se nela a voz. Ela reluzia sobre a cortina, a qual assemelhava-se a uma pequena moça, cujos olhos amendoados agora eram lacrimosos. Tentei tocá-la, mas minhas mãos apenas tremeram de frio. As grandes amêndoas encararam profundamente os meus olhos atônitos. Seu cabelo era agora parte do céu, das estrelas escuras da noite. Seus lábios desenhavam quebrados o brilho de uma constelação em seu entremeio, como se ela fosse um caminho celeste.

Um suspiro:

– A…

E não pude distinguir mais nada.

Aquela fora a última noite.

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