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Foto do escritorEmmanuel Prado

Costura

Rebentam sobre mim as ondas do oceano Perdido num engano, tecido rasgado Fiando as linhas dum poema lusitano Como as costuras de um pano remendado Meu coração é colcha de retalhos, despencada Caída do fio do tear, a máquina que me tecia As escuras linhas do luminoso ardor da alma desfiada Entrecontada nas lisuras de um tapete que nascia Como tapeçaria que não é mais tão singular Perdem-se os homens no momento mais doce As cores que pintara nas obras deste meu tear As lágrimas do choro, por mais amargo que fosse As linhas d’água que caiam sobre o chão No fiamento, na fazenda construída de algodão Firmamento do paraíso nas vitrines de bordar Como delicado traço da agulha a costurar Nunca antes havia bordado uma história em tapete Contava nas minhas histórias de letras amarradas Descrevia minhas memórias remendadas num bilhete Como se fosse liar, para sempre o fio de linhas desfiadas Toda linha que se bordava delicada num aviamento A seda doce misturava o tear deste solitário pensamento Como a ternura com que se passam as agulhas pelas linhas Nas costuras desatadas no meu coração de poesias tão fininhas Indenegável coloração aparecia pelo sangue avermelhado Pintura rubra do remendo eternamente desmanchado Como a ligar as pontas soltas de uma vida de promessas Uma linha de pinturas tão revoltas, a saída que ingressa Adentrou-se o bordado pelo íntimo desta tapeçaria A solitária fiação, poesia delicada amarrada que se cria Como o divino sopro intermitente de um ser superior Ao poeta eterno, em suas penas de letras, perpétuo escritor

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