Rebentam sobre mim as ondas do oceano
Perdido num engano, tecido rasgado
Fiando as linhas dum poema lusitano
Como as costuras de um pano remendado
Meu coração é colcha de retalhos, despencada
Caída do fio do tear, a máquina que me tecia
As escuras linhas do luminoso ardor da alma desfiada
Entrecontada nas lisuras de um tapete que nascia
Como tapeçaria que não é mais tão singular
Perdem-se os homens no momento mais doce
As cores que pintara nas obras deste meu tear
As lágrimas do choro, por mais amargo que fosse
As linhas d’água que caiam sobre o chão
No fiamento, na fazenda construída de algodão
Firmamento do paraíso nas vitrines de bordar
Como delicado traço da agulha a costurar
Nunca antes havia bordado uma história em tapete
Contava nas minhas histórias de letras amarradas
Descrevia minhas memórias remendadas num bilhete
Como se fosse liar, para sempre o fio de linhas desfiadas
Toda linha que se bordava delicada num aviamento
A seda doce misturava o tear deste solitário pensamento
Como a ternura com que se passam as agulhas pelas linhas
Nas costuras desatadas no meu coração de poesias tão fininhas
Indenegável coloração aparecia pelo sangue avermelhado
Pintura rubra do remendo eternamente desmanchado
Como a ligar as pontas soltas de uma vida de promessas
Uma linha de pinturas tão revoltas, a saída que ingressa
Adentrou-se o bordado pelo íntimo desta tapeçaria
A solitária fiação, poesia delicada amarrada que se cria
Como o divino sopro intermitente de um ser superior
Ao poeta eterno, em suas penas de letras, perpétuo escritor
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