Tenho contemplado um desejo de fim
Uma vontade de encerrar a mim
E deixar de ser, simplesmente
E não apenas morrer, naturalmente
E sinto como se eu quisesse desaparecer
Sem traço de mim mesmo, algum
Em um movimento perfeito, e nenhum
Rastro de mim, de sombra do meu ser
Sem individualidade, sem saudade
Sem vontade, sem mortalidade
Sem desespero, sem amor
Sem nenhum choro, sem pavor
E não serei mais eu, ou eu nenhum
A me desfazer num líquido
E liquidado eu estarei, eterno
Sem meu eu, sem pensar
E eu desejei tanto ser tão útil
Um outro alguém, que desejo fútil
Em mim mesmo encerrado para sempre
E ser como uma pedra, indiferente
Sem existir não seria nada
Sem dores ou alegrias
Sem tristezas tão vazias
Sem maltratar outra alma
E não ser mais coisa alguma
Sem peso, como uma pluma
Sem sentido, sem razão
Sem pecado ou perdão
E ser nada, deixar de ser humano
De ser alma ou animal
E voltar para o infinito
Um perfeito tão bonito
Sem disparidade, sem dualidade
Sem mentira, sem verdade
Sem coisa alguma, puro nada
Sem uma alma estraçalhada
E ser como o espaço
Vazio, sem ser, sem ver
Sem tudo, e sem nada
Voltar ao que já fui sem ser
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