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Foto do escritorEmmanuel Prado

Cale-se



Sinto-me uma iniquidade

Uma razão sem motivo

Pensamento todo cativo

De sombras de saudade


Meu coração está escurecido

Em uma voz de tom emudecido

Meu mundo se esvai profano

De não haver algo neste plano


Sinto que estou em pedaços

A distância a desenhar mil traços

Meu pensamento está confuso

E me perco a chorar em lábio luso


Se não sei mais o que há de ser

Não quero mais encontrar o viver

Gostaria de por um momento sumir

Deixar de ser, me esconder e esvair


De uma forma oculta desprender-me

E escorrer, como a lágrima a conter-me

Se impureza está no olho de minha face

Meu mundo é uma flor que não renasce


Estou como um reflexo aquebrantado

Meu mundo foi de tristezas magoado

Em mil memórias e quero esquecer

Deixar esta vida, ir para outra e viver


Estou cansado desta sombra que sou

Um pálido lampejo de um homem

Enquanto as saudades me consomem

Já não sou nada, tudo a cinza queimou


E como uma pedra o meu coração

Se fosse uma rocha seria fácil razão

E nada no mundo me tocaria o peito

E não haveria tanta dor no meu leito


Me deito sozinho nas sombras da noite

Ouço a dor do que não quero mais ouvir

Escuto este choro tenebroso a me partir

Como o estalo da dor neste vago açoite


E que a minha alma está atada agora

Chorosa sem o brilho de qualquer aurora

E meu mundo eu queria que não fosse

Só queria no meu peito sentimento doce


Mas meu coração está emudecido

Calado por forças que não são minhas

Obrigado a silenciar-se eternamente

Nas minhas saudades todas sozinhas

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