Sinto-me uma iniquidade
Uma razão sem motivo
Pensamento todo cativo
De sombras de saudade
Meu coração está escurecido
Em uma voz de tom emudecido
Meu mundo se esvai profano
De não haver algo neste plano
Sinto que estou em pedaços
A distância a desenhar mil traços
Meu pensamento está confuso
E me perco a chorar em lábio luso
Se não sei mais o que há de ser
Não quero mais encontrar o viver
Gostaria de por um momento sumir
Deixar de ser, me esconder e esvair
De uma forma oculta desprender-me
E escorrer, como a lágrima a conter-me
Se impureza está no olho de minha face
Meu mundo é uma flor que não renasce
Estou como um reflexo aquebrantado
Meu mundo foi de tristezas magoado
Em mil memórias e quero esquecer
Deixar esta vida, ir para outra e viver
Estou cansado desta sombra que sou
Um pálido lampejo de um homem
Enquanto as saudades me consomem
Já não sou nada, tudo a cinza queimou
E como uma pedra o meu coração
Se fosse uma rocha seria fácil razão
E nada no mundo me tocaria o peito
E não haveria tanta dor no meu leito
Me deito sozinho nas sombras da noite
Ouço a dor do que não quero mais ouvir
Escuto este choro tenebroso a me partir
Como o estalo da dor neste vago açoite
E que a minha alma está atada agora
Chorosa sem o brilho de qualquer aurora
E meu mundo eu queria que não fosse
Só queria no meu peito sentimento doce
Mas meu coração está emudecido
Calado por forças que não são minhas
Obrigado a silenciar-se eternamente
Nas minhas saudades todas sozinhas
Comments