Há anos não me debruço sobre a solidão
Solidão derramada em páginas de papel
Solidão de amargura no azul do céu
Solidão de ser só, ah, mas que dó, oh dó
Mas numa centelha infinita das lembranças
Memórias desatadas de minhas andanças
Caminhos que não percorro em pele gentil
Ainda assim derrama dourada no céu anil
A saudade como meus raios de um Sol
A florescer a tristeza num solitário arrebol
Ah, que mundinho tão vazio é a memória
A relembrar a findada mudança, compulsória
Obriguei-me a ir só, num caminho tão meu
Meus poemas, oh céus, meus poemas!
Foram-se com as tristezas que eu vivi, assim
Partiram-me, partiram-me, derramaram-me a mim
Como se escrever fosse um ofício que não sei
Mas é a única coisa viva que eu tenho!
Ah, se para escrever é preciso de amor engenho
Fadado estou ao amor que se foi, amor que eu dei
Mas que tamanha insipidez eu sinto, tremido
Minha alma já tão tranquila na solidão
E tudo que agora se escora nas palmas da mão
São meus olhos inchados, sem lágrimas
Minhas rimas têm-se aos poucos morrido
Como se eu tivesse sido no poema cindido
Separado de uma arte que a mim alimenta
E faz de meu coração morada sedenta
E sede! Sede! Sangue! Sede!
Sede que a mim cede a triste bebida
Amarga de açúcar, na doçura caída
A amargar as memórias de amor
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