Eu sou homem, pequeno homem
De sentimentos que me consomem
Eu não aprendi as doçuras da vida
E nem a falar das coisas vividas
Eu tenho o rosto de homem assim
De feição juvenil, com alma senil
Tenho os olhos de vidros cem mil
Míopes meus olhos, até o meu fim
Sou homem que não sabe ser
Homem que não aprendeu a viver
Sou homem que não sabe cantar
Homem que não aprendeu a chorar
Me ensinaram que homem não chora
Que homem não tem doçura ou carinho
Que ser homem é vazio. Mas e agora?
Ser homem é preocupar-se só, sozinho
Ser homem é pensar só em si, disseram
Homem não pode ser nada doce ou gentil
Homem não vê beleza no céu de estrelas anil
Só existe amor de mãe, de mulher, disseram
Homem não ama, homem não põe para fora
O que sente ou que dói, porque isso é fraqueza
Ter no coração qualquer sentimento de nobreza
Esta bela coisa que somente na mulher aflora
Não me ensinaram a amar, porque sou homem
E estas dores agora um tanto me consomem
Como é ter amor de homem? Amar como sou
Se eu sou homem tão só, tão pequeno que sou
Não me ensinaram a chorar, porque sou homem
E o que fazer com as coisas que me doem?
Se não posso sentir nada por ser como sou
Como posso amar, chorar ou viver, se sou homem?
E dizem-me que ela por quem choro não merece
As dores e as lágrimas que o meu coração tece
Mas não posso fazer nada a não ser me ocultar
Então como é que posso, sendo homem, amar?
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