
Hoje abracei a noite tão só
Dancei, gastei minha garganta
Aos berros cantei, sorri
Mas cansei-me pois estou só
Estou só e não sei como estar só
Minha alma incompleta me incomoda
Não quero mais tanta desenvoltura
Nas tristezas límpidas de toda madrugada
Estou cansado de admirar o que quero
E resignar-me tão só, e assim ficar
Olhar ruivos cabelos e não saber falar
E dizer coisas tão doces do que espero
Estou cansado de ouvir músicas assim
Estou cansado de atirar-me à cama
Estou cansado deste mundo que me engana
Estou cansado deste peso sobre mim
Eu não quero mais me esconder nas ruas
Estou desamparado sobre meu peito
E eu só choro das loucuras do meu leito
Quando encontro as madrugas de alvuras
E a noite um tanto me dói o coração
E não sei mais como cantar outra canção
Meu Porto foi para sempre desprendido
E meu coração continua todo reprimido
Estou cansado destes ruivos cabelos que eu vi
Outros cachos de memórias que há muito esqueci
Estou cansado de saber das coisas que eu quero
E resignar-me na solidão do que eu espero
E o silêncio e omissão são mais factíveis
Do que dançar com chamas em meus olhos
E querer nomes e coisas que não saberei
Não sei rimar aquilo por que me encantei
Estou cansado deste sentimento em mim
Desta distância que me prende o coração
Como se eu jamais pudesse ter doçura
E falar com outra alma cheia de ternura
Estou exausto destas lágrimas em minha face
Estou cansado desta tristeza que só renasce
Eu quero que tudo isso morra em mim
E que se sepulte para sempre, eterno fim
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